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  • Nuño Dominguez

Vacina da gripe pode potencializar imunidade contra o coronavírus

Estudos observam que a imunização pode ter reforçado as defesas contra o SARS-CoV-2 e diminuído a mortalidade por covid-19.

Enfermeiro administra a vacina da gripe em Lakewood, na Califórnia, em outubro.MARIO TAMA / AFP



A vacina da gripe pode reforçar o sistema imunológico para combater e eliminar o novo coronavírus. É o que sugere um novo estudo, ainda preliminar, que pela primeira vez analisou os efeitos em nível molecular da vacina da gripe na presença do novo vírus SARS-CoV-2. O trabalho, feito na Holanda, também sugere que a vacina da gripe protege em até 39% contra o contágio pelo coronavírus.


Até agora não estava claro se as vacinas contra a gripe e outras doenças podiam melhorar ou piorar o prognóstico dos infectados por covid-19, ou mesmo se seriam capazes de ajudar a evitar contágios. Nos últimos meses, vários estudos já vinham descrevendo efeitos positivos da vacinação da gripe. Na Itália, observou-se que idosos vacinados contra a gripe tinham menos mortalidade por covid-19 que os não vacinados, segundo um trabalho já revisado por especialistas independentes e publicados em uma revista científica. A mesma equipe encontrou dados similares nos EUA, embora neste caso se trate de um estudo ainda não revisado. Outros trabalhos vão na mesma linha.


Observou-se que outra vacina, a da tuberculose, também pode proteger parcialmente contra o coronavírus. Já estão em andamento vários ensaios clínicos com pacientes para tentar demonstrar esse efeito positivo.


O novo estudo conclui que a vacina da gripe reforça a primeira linha de defesa do sistema imunológico ― conhecida como imunidade inata ― e aponta o porquê. Esta primeira linha, ativada logo depois que um agente patogênico entra no organismo, inclui células capazes de identificar a ameaça, lançar um sinal de alarme generalizado para que outros soldados compareçam ao local da infecção, junto com células assassinas naturais capazes de matar as células que já tenham sido infectadas.


O trabalho se baseia em amostras de sangue de pessoas sãs, às quais se acrescentou primeiro uma vacina da gripe tetravalente ― ou seja, que combate quatro variantes do vírus ― e depois o coronavírus SARS-CoV-2. O trabalho mostra um reforço da resposta imunológica inata e a secreção de certo tipo de citocinas. Embora estas proteínas do sistema imunológico estejam associadas a prognósticos graves e inclusive à morte por covid-19 em pacientes já muito doentes, nas fases iniciais da infecção essas moléculas ajudariam a montar uma reação mais equilibrada do sistema imunológico. Além disso, os pesquisadores sugerem que a vacina da gripe favorece que a primeira linha de imunidade se ligue melhor à segunda linha, que inclui a produção de anticorpos, proteínas capazes de bloquear o vírus para que não infecte mais, e células imunológicas capazes de se lembrar do vírus durante meses ou anos, destruindo-o se voltar a aparecer.


O trabalho, dirigido por Mihail Netea, do Centro Médico da Universidade de Nimega (Países Baixos), estudou também a incidência de covid-19 entre mais de 10.000 profissionais sanitários, dos quais 184 se contaminaram nesse hospital, e a compara com outros hospitais do país. O estudo mostra que o risco de contrair covid-19 é aproximadamente 39% menor entre os que se vacinaram previamente contra a gripe.


“Este é um estudo epidemiológico, não um ensaio clínico randomizado e prospectivo, por isso não podemos estar completamente seguros de que a vacina da gripe tenha um efeito tão grande como o observado”, explica Netea. “Em todo caso, é possível que esta proteção de fato ocorra e que a vacina reduza a expansão da covid-19”, acrescenta. O trabalho se encontra em processo de revisão para ser publicado numa revista científica.


Os responsáveis pelo trabalho advertem para algumas limitações em seu estudo. Por exemplo, é possível que o risco de infecção seja maior em alguns profissionais sanitários que em outros, independentemente de estarem ou não vacinados, o que pode afetar os resultados. Além disso, há um possível viés, já que em geral as pessoas que se vacinam são muito mais precavidas e preocupadas com sua saúde e com um possível contágio que as que não se vacinam.


“Com estes dados e levando-se em conta que ainda faltam meses até que haja uma vacina eficaz contra a covid-19 disponível de forma generalizada, a vacina da gripe pode não só ajudar a conter esse vírus, mas também a carga de infecções por covid-19, especialmente em hospitais”, conclui o estudo.


“Estes dados nos mostram que a vacina da gripe pode potencializar a imunidade natural”, ressalta Marcos López, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia. Além disso, o trabalho observou um efeito imunológico adicional se, além da vacina da gripe, fosse administrada a da tuberculose (BCG).


“O efeito protetor observado é moderado, mas o importante é que se demonstra in vitro pela primeira vez que esta vacina potencializa a imunidade treinada”, explica Carmen Cámara, imunologista do Hospital La Paz, de Madri. Até agora, isto era demonstrado com a vacina da tuberculose BCG e com vacinas vivas. “Nos dois anos seguintes à administração destas vacinas, o sistema inato age com maior intensidade perante outras infecções virais. O mecanismo é justamente treinar as células do sistema imunológico inato como assassinas naturais, macrófagos ou monócitos para responder de forma mais rápida e intensa frente a outras infecções virais.”


Este estudo “fornece uma razão adicional para se vacinar contra a gripe, mas não é suficiente para ampliar a indicação da vacina da gripe a toda a população”, ressalta Cámara. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda a vacina contra Influenza para maiores de 55 anos, pessoas imunodeprimidas, profissionais da saúde. Crianças a partir de 6 meses, gestantes, pessoa com deficiências e professores da escola pública também estão na lista de indicações.


“Já foram descritos efeitos de imunidade treinada com a BCG [tuberculose], com outras vacinas, e inclusive se postulou com a DTP [difteria, tétano e coqueluche], mas é preciso demonstrá-lo”, adverte África González, imunologista da Universidade de Vigo. “É uma boa ideia testar isso; abrem-se portas a novos estudos.”


Fonte: El País



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